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Mato Grosso do Sul terá primeira usina de hidrogênio verde no Centro-Oeste

Com essa parceria entre a UFMS, RBCIP e GWE, Brasil poderá faturar R$ 150 bilhões por ano com o mercado de H2V até 2050


DA REDAÇÃOi

27/02/2024 - 16:12



Diante da expansão das novas fontes de energias renováveis, no cenário nacional e internacional, o hidrogênio verde (H2V) vem ganhando espaço e expandindo suas possibilidades. No contexto da descarbonização do planeta, em uma busca por maior sustentabilidade, ele pode ser usado como fonte de energia limpa, sendo uma solução possível para diminuir a emissão de gás carbônico no planeta, extraído de fontes limpas e renováveis.


O hidrogênio verde é obtido por meio de um processo químico conhecido como eletrólise, em que se utiliza a corrente elétrica de fonte renovável para separar o hidrogênio do oxigênio que existe na água. A pesquisa Green Hydrogen Opportunity in Brazil (Oportunidade de Hidrogênio Verde no Brasil, em português), publicada em 20 de janeiro de 2023, mostra que o Brasil poderá faturar R$ 150 bilhões por ano com o mercado de H2V até 2050,sendo que R$ 100 bilhões seriam provenientes das exportações da commodity.


Esse mercado promissor de hidrogênio verde será impulsionado no Centro-Oeste, com o acordo de cooperação entre a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Rede Brasileira de Certificação Pesquisa e Inovação (RBCIP) e a empresa Green World Energy Hydrogen (GWE) para a construção da primeira usina de hidrogênio verde na região. O reitor da UFMS, Marcelo Turine, enfatizou a importância estratégica da parceria.


“Esta iniciativa reafirma a posição da universidade na vanguarda da inovação científica em sustentabilidade e reforça nosso compromisso transparente com o desenvolvimento sustentável da região e do país como um todo. Aproveitando esta oportunidade única, buscamos modernizar nossas práticas, impulsionar a economia regional e promover o uso de energias sustentáveis”.


O professor Marcelo Fiche, coordenador do projeto na RBCIP, explica que o know-how do corpo técnico da instituição possibilitará a implantação do empreendimento em um prazo de oito meses, com inauguração prevista para o segundo semestre de 2024. Ele acrescenta que no mercado, o tempo da construção de uma usina piloto dura, em média, 14 meses.


“As instalações funcionarão dentro da UFMS, em Campo Grande, e será um centro de excelência em pesquisa e desenvolvimento, com foco na produção sustentável de energia e na mitigação dos impactos ambientais, destacando-se como um Hub tecnológico de pesquisa, no uso sustentável do hidrogênio”, explica o pesquisador.


Para ajudar a reduzir um dos gargalos da atividade no Brasil, que é a carência de mão de obra especializada para operar as usinas de hidrogênio verde e seus derivados, 500 especialistas como professores e engenheiros serão capacitados nas instalações, por ano, para atuarem no mercado brasileiro e internacional.


O empreendimento deve atrair investimentos na ordem de 2 bilhões de reais até 2030. Na avaliação de Marcelo Fiche, o Brasil deve usar suas fontes naturais para produzir além do hidrogênio verde, produtos oriundos do H2V que gerem valor adicional na comercialização de commodities.


“Há uma tentativa de aproveitar a produção de hidrogênio para gerar maior valor agregado em produtos que o Brasil produz. Essa parceria da RBCIP com a UFMS e GWE defende que ao invés de exportar aço, o país pode vender para fora aço verde, amônia verde, hidrogênio verde, em substituição do cinza e agregar valor. Essa atividade resulta no nascimento da própria cadeia de produção de equipamentos na indústria, fortalecendo o setor no país. No mercado interno, existem oportunidades de descarbonização para diversos setores industriais importantes como cimento, aço, alimentício, fertilizantes, petroquímico, dentre outros”, afirma Fiche.


O CEO da empresa Green World Energy Hydrogen (GWE), Marcelo Vieira, explica que na usina, dentro da UFMS, também serão feitos estudos de rotas importantes para o hidrogênio: o gás sintético, o diesel verde, chamado de HVO, o metanol verde, a amônia verde e os fertilizantes verdes. Além disso, serão realizados estudos EVTEA – de viabilidade técnica, econômica e ambiental.


“O objetivo desse trabalho é, também, tornar a usina um centro de excelência em pesquisas de hidrogênio verde no Centro-Oeste do país para que empresas privadas possam desenvolver suas pesquisas”, informa o CEO.


Atualmente, o Brasil não fabrica efetivamente o hidrogênio verde, mas possui alguns projetos em andamento. No entanto, um estudo internacional, feito pela consultoria alemã Roland Berger, aponta que o Brasil tem potencial para se tornar o maior produtor mundial em hidrogênio verde. O país tem 87% da sua matriz energética oriunda de fontes renováveis como hidrelétricas, painéis solares e eólicas. Apesar disso, o Brasil ainda possui grande capacidade de expansão dessas fontes.


Produção mundial 


Um estudo da Deloitte Brasil aponta que o comércio global de hidrogênio pode gerar mais de US$ 280 bilhões em receitas anuais de exportação até 2050. Em relação aos investimentos, mais de US$ 9 trilhões deverão ser injetados na cadeia global de abastecimento de hidrogênio limpo para ajudar no alcance do net zero até 2050. Desse total, cerca de US$ 3 trilhões serão investidos em economias em desenvolvimento.


Em 2021, a demanda global por hidrogênio em todo mundo foi de 94 milhões de toneladas. A maior parte desta demanda foi produzida por meio de fontes fósseis, geralmente gás natural. A estimativa é que até 2050, a demanda pelo combustível de baixo carbono chegará entre 350 e 530 milhões de toneladas por ano. Com o aumento do consumo, os países de todo mundo tentam usar energias renováveis para cumprir o Acordo de Paris, com a redução do efeito estufa agravado pelas emissões do carbono. A guerra na Ucrânia e a elevação do preço do gás russo fizeram com que vários países europeus antecipassem os seus planos de transição energética, em particular, os investimentos em hidrogênio renovável.


Entre os principais países que atuam no setor de hidrogênio, destaca-se a Alemanha como grande importador, bem como a Austrália e o Chile como grandes exportadores. Já a China é o maior produtor de hidrogênio do mundo, com uma produção anual de cerca de 33 milhões de toneladas, a maioria de origem fóssil, mas pretende ter uma produção anual de hidrogênio verde de 100 mil a 200 mil toneladas até 2025.

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